Brasil
“Golpe é abominável”: Bolsonaro adota tom pacificador em depoimento a Moraes
Jair Bolsonaro reapareceu em cena com um discurso surpreendentemente brando. Durante depoimento ao ministro Alexandre de Moraes, o ex-presidente negou qualquer intenção golpista em seu governo e tratou o tema com cordialidade, até mesmo trocando piadas com o magistrado. “Golpe é uma coisa abominável”, disse, em contraste com anos de flertes com a ditadura militar de 1964.
Em uma fala cuidadosamente calibrada, Bolsonaro reconheceu que discutiu “alternativas” após sua derrota eleitoral, mas garantiu que jamais cogitou levar adiante uma ruptura institucional. Referindo-se ao documento que previa a prisão de autoridades — uma das peças centrais da investigação —, ele afirmou ter descartado a ideia. Segundo ele, “o after day é que é simplesmente imprevisível e danoso para todo mundo”.
O tom conciliador incluiu também uma tentativa de reescrever sua própria narrativa sobre as urnas eletrônicas. “Nunca fiz ataques, fiz críticas”. A retórica de confronto deu lugar a uma versão domesticada de si mesmo: “Joguei dentro das quatro linhas o tempo todo”. Ao longo do depoimento, Bolsonaro tentou blindar sua imagem de qualquer vínculo direto com as movimentações golpistas, enquanto suavizava sua retórica, fez questão de se colocar como defensor da ordem: “Repudiamos tudo isso aí”, disse, mirando um reposicionamento público e jurídico.
Mesmo diante da insistência dos investigadores sobre sua responsabilidade moral nos atos antidemocráticos, Bolsonaro tratou os eventos do 8 de janeiro como uma iniciativa isolada de “malucos que defendem o AI-5”, dissociando-se por completo da articulação dos ataques. “Se eu almejasse um caos no Brasil, era só ficar quieto”, afirmou, referindo-se a um vídeo publicado por ele pedindo a liberação de estradas. O ex-presidente reforçou que os comandantes das Forças Armadas jamais embarcariam em aventuras autoritárias por pressão popular.