Do Norte do Brasil surge uma das vozes mais promissoras da literatura infantil: Airton Souza, de Marabá (PA), vencedor de um concurso internacional com o livro A chuvinha que não queria molhar ninguém, uma obra que convida à reconexão com aquilo que é essencial — a natureza. Em páginas carregadas de afeto, o autor constrói uma história em que a cumplicidade entre o ser humano e o meio ambiente não é apenas pano de fundo, mas personagem viva.

A narrativa apresenta uma chuvinha sensível ao ritmo das pessoas, que tenta não atrapalhar o dia de ninguém. Com delicadeza e imaginação, Airton transforma esse gesto em metáfora, revelando que a natureza não está fora, distante ou silenciada — ela pulsa em cada gesto simples, em cada sensação que atravessa a infância.

Ao escrever, o autor costura imagens que despertam a escuta, o cuidado e a presença — valores que, tantas vezes, a pressa da vida adulta apaga. Sua vitória é mais que um prêmio: é o reconhecimento da força poética que nasce nas margens do Brasil e alcança o mundo.

No nosso Nordeste, a literatura infantil é um espaço de resistência e reinvenção. Rosa Morena, escritora cearense de Itapipoca, exemplifica essa força criativa. Sua trajetória é marcada por uma arte que transborda em diversas formas — palavras, pincéis, sensibilidade. É no olhar das crianças que ela encontra seu ponto de partida mais puro.

Autora de Bilbo, o macaquinho, Rosa apresenta a história de um pequeno macaco que, após perder seu cipó preferido, se vê diante da necessidade de recomeçar. A obra, ilustrada por Ed Júnior, é delicada, divertida e cheia de movimento — e oferece às crianças uma metáfora sobre flexibilidade e superação. Bilbo aprende que os desafios não encerram caminhos: eles inauguram novos.

Escrito durante os meses mais incertos da pandemia, o livro carrega uma camada de resiliência. Rosa Morena, artista múltipla que também atua com pintura, poesia e projetos culturais, escreveu Bilbo como quem estende a mão para o futuro. O resultado é uma narrativa que não subestima a infância, mas a celebra como lugar de potência criativa, mesmo diante do inesperado.

Na matéria anterior, falamos de Cabelo de Estrelas de @anaabreuescritora , uma história onde a beleza da infância permanece viva mesmo em meio ao tratamento do câncer. Já em Bilbo, o macaquinho, Rosa Morena reforça, com leveza, a capacidade das crianças de seguir em frente e encontrar novas formas de viver quando algo muda. Em comum, os dois livros revelam que a literatura infantil pode ser esse solo fértil onde a esperança cresce — e onde a criança continua sendo ela mesma, com coragem, imaginação e encanto.

Dando continuidade à nossa série especial em homenagem ao Dia do Livro Infantil, chegamos à região Sul com uma obra que toca o coração de forma delicada e profunda. A autora catarinense Ana Paula de Abreu nos apresenta Cabelo de Estrelas, um livro que nasce da dor, mas floresce em esperança.

Inspirada por sua vivência como voluntária na ala de oncologia pediátrica em Blumenau (SC), Ana Paula escreveu uma história para crianças que enfrentam o câncer — mas também para todos que buscam reencontrar beleza em meio ao sofrimento. A protagonista da obra perde os cabelos durante o tratamento, mas se reinventa: imagina-se com fios de algodão, conchas, flores e, por fim, com cabelos de estrelas.

Com ilustrações encantadoras de Ana Cardia, a obra convida o leitor a entrar no universo da imaginação como forma de cura emocional. A iniciativa vai além da literatura: parte da renda das vendas é revertida para a Casa de Apoio de Blumenau, que acolhe crianças em tratamento e suas famílias.

Depois de falarmos sobre bullying no Sudeste com a autora mineira @escritora_lucianaaquino , agora mostramos como a literatura infantil também pode acolher e iluminar em tempos difíceis. No Sul, a dor virou poesia — e cada página, um fio de esperança.