Ceará

Sessão vazia expõe descaso com o dever público na Assembleia do Ceará

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A sessão plenária da Assembleia Legislativa do Ceará, nesta quarta-feira (15), foi encerrada antes mesmo de começar. O motivo? Falta de quórum. O que poderia parecer um contratempo pontual, na verdade, escancara uma rotina de descompromisso com a função pública. E o mais curioso — ou revoltante — é que o dia é o único da semana em que a presença dos deputados é obrigatoriamente presencial. Mesmo assim, não havia sequer um terço dos parlamentares em plenário.

Em tese, a quarta-feira deveria ser o ápice da semana legislativa. O dia em que os debates ganham corpo, as votações avançam e a população pode acompanhar, de perto, aqueles que elegeu para representar seus interesses. Mas o que se viu foi um plenário esvaziado, cadeiras vazias e o presidente da Casa obrigado a encerrar a sessão por falta de número mínimo para deliberar qualquer matéria. Uma cena que se repete, infelizmente, com frequência vergonhosa.

É difícil justificar o injustificável. Como explicar a ausência maciça de deputados em um dia que, por regra, exige presença física? Muitos desses parlamentares passam o restante da semana em agendas externas, eventos políticos ou viagens — algumas, até questionáveis quanto à relevância pública. Mas nem mesmo a “obrigatoriedade” da quarta-feira tem sido suficiente para garantir o básico: presença e trabalho.

O mais preocupante é que a falta de quórum não é apenas um detalhe administrativo; é um sintoma. Ela revela a desconexão entre representantes e representados. Enquanto a população enfrenta ônibus lotados e longas jornadas de trabalho, os deputados parecem se dar ao luxo de faltar justamente ao dia reservado para exercer o cargo para o qual foram eleitos — e bem remunerados, por sinal.

Em uma Casa com 46 parlamentares, bastaria a presença de 16 para que a sessão pudesse acontecer. Não estamos falando, portanto, de uma exigência fora da realidade. Ainda assim, nem esse número mínimo foi atingido. O recado que fica é desalentador: o compromisso com o serviço público parece opcional, e o respeito ao eleitor, cada vez mais simbólico.

Há quem tente justificar as ausências com discursos burocráticos — compromissos paralelos, agendas institucionais, reuniões internas. No entanto, o contribuinte dificilmente se convence. Afinal, para a maioria da população, “compromisso de trabalho” significa estar presente, pontualmente, no local onde se trabalha. Por que com os parlamentares deveria ser diferente?

O problema é estrutural, mas também cultural. A ideia de que o mandato é uma espécie de carta branca, e não uma missão de trabalho contínuo, ainda permeia parte da política cearense. O plenário vazio é apenas o retrato visível de uma mentalidade que trata o cargo como prestígio, e não como dever.

Enquanto isso, temas importantes ficam parados. Projetos de lei, requerimentos, homenagens — tudo travado, à espera de um quórum que parece cada vez mais raro. O contribuinte, que paga altos salários e custeia gabinetes, assessores, carros oficiais e verbas de gabinete, assiste de longe à falta de empenho de quem deveria estar ali justamente para discutir os rumos do Estado.

A indignação da sociedade é legítima. Se a Alece quer reconquistar o respeito da população, precisa começar pelo óbvio: aparecer para trabalhar. Um dia por semana de presença obrigatória já é, por si só, um privilégio diante da rotina de qualquer cidadão comum. Faltar a esse único dia é, portanto, mais do que desrespeito — é provocação.

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