Ceará
Polícia prende suspeitos de ameaçar vendedores na Beira-Mar de Fortaleza
A Polícia Civil do Ceará prendeu dois homens suspeitos de ameaçar vendedores ambulantes na Beira-Mar, em Fortaleza. Os comerciantes relataram ter sido obrigados a participar de um grupo no WhatsApp, criado por integrantes de uma facção criminosa, no qual eram pressionados a comprar bebidas e água de coco apenas de fornecedores indicados pela organização. Caso desobedecessem, os ambulantes seriam alvo de represálias violentas.
As mensagens, enviadas no último domingo (17), usavam expressões de intimidação direta. Em uma delas, os criminosos afirmavam que, se os vendedores não cumprissem as ordens, seriam “espichados no calçadão”, em referência a agressões físicas graves. A tentativa de controlar até o comércio informal da região provocou temor entre os trabalhadores que dependem da venda de bebidas para sobreviver.
Na terça-feira (19), equipes da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) e do Departamento de Inteligência Policial (DIP) localizaram e prenderam os suspeitos. Foram detidos José Geraldo de Almeida Neto, de 40 anos, conhecido como “Netão Marley”, e Paulo Henrique Pereira Alves, de 24, apelidado de “PH”. Ambos já possuíam antecedentes criminais e, segundo a investigação, atuavam como representantes do Comando Vermelho na região.
As prisões chamaram atenção pelo perfil dos envolvidos. “PH” se apresentava nas redes sociais como influenciador digital, acumulando mais de 25 mil seguidores no Instagram e exibindo uma rotina de viagens e ostentação. Já “Netão Marley” tinha histórico ligado ao tráfico de drogas. Para a polícia, a dupla usava a visibilidade online e a intimidação presencial para impor o monopólio do comércio.
Além das ameaças, os investigadores encontraram drogas em posse de Paulo Henrique, que foi autuado em flagrante também por tráfico. Ambos foram enquadrados no crime de integrar organização criminosa. As autoridades afirmam que a prisão faz parte de uma estratégia de repressão qualificada contra facções que tentam expandir sua influência para áreas turísticas e de grande circulação.
Em resposta ao caso, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) reforçou o policiamento na Beira-Mar. O trabalho envolve equipes do Batalhão de Policiamento Turístico (BPTur), da Força Tática, do CPRaio, do CPChoque e do motopatrulhamento. A medida busca garantir a tranquilidade dos comerciantes e turistas que frequentam a orla.
O secretário da SSPDS, Roberto Sá, destacou que a polícia tomou conhecimento das ameaças pelas redes sociais e pediu que a população registre boletins de ocorrência em casos semelhantes. Ele também informou que as prisões por organização criminosa cresceram 90% em julho de 2025 em comparação com o mesmo mês do ano passado, reflexo da intensificação das ações policiais.
Apesar da repercussão, vendedores ouvidos na própria Beira-Mar afirmaram desconhecer oficialmente as ameaças. Para muitos, o silêncio é uma forma de proteção, já que o medo de represálias ainda é presente. O clima entre os ambulantes, no entanto, é de apreensão diante da tentativa de uma facção de interferir diretamente em suas atividades.
A defesa dos dois presos, representada pelo advogado Francisco Roberto Castelo Branco Pereira Filho, afirma que eles são inocentes e reforça a importância da presunção de inocência garantida pela Constituição. Enquanto isso, a polícia segue investigando se outros integrantes da facção atuam no esquema e de que forma o grupo tentava lucrar com a imposição de fornecedores.
O caso expõe um novo braço da criminalidade organizada em Fortaleza, que busca explorar até mesmo o comércio ambulante em pontos turísticos. A ação rápida da polícia impediu que as ameaças se consolidassem em violência direta, mas o episódio revela os desafios das autoridades em conter a expansão das facções e proteger trabalhadores que vivem sob intimidação constante.