Desastres
Manada de porcos pode ter causado manobra que derrubou avião no Pantanal
A tragédia aérea que vitimou quatro pessoas no Pantanal de Mato Grosso do Sul ganhou um novo elemento. Investigadores trabalham com a hipótese de que uma manada de porcos selvagens, conhecidos como queixadas, teria invadido a pista de pouso da fazenda Barra Mansa, em Aquidauana, e forçado o piloto a realizar uma arremetida de emergência. A manobra, segundo relatos iniciais, pode ter sido o ponto de partida para a queda que matou todos a bordo.
A aeronave era um Cessna 175, de 1958, registrada como PT-BAN. O piloto e proprietário, Marcelo Pereira de Barros, tentava pousar quando se deparou com os animais atravessando a pista. Para evitar colisão, teria puxado o avião para ganhar altitude, mas a manobra não se sustentou: a aeronave caiu a pouco mais de 100 metros da cabeceira. O impacto foi fatal e deixou destroços espalhados pela área de mata que cerca a fazenda.
Entre as vítimas estavam dois cineastas brasileiros, Luiz Fernando Feres da Cunha Ferraz e Rubens Crispim Jr., além do arquiteto chinês Kongjian Yu, referência mundial no urbanismo ecológico e um dos destaques da Bienal de Arquitetura de São Paulo em 2025. A morte dele repercutiu internacionalmente, já que seu conceito de “Cidade Esponja” vinha sendo adotado em grandes centros urbanos.
O caso levantou questionamentos sobre as condições de operação do avião. Dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) confirmam que a aeronave não estava autorizada a prestar serviço de táxi aéreo. Além disso, tinha permissão apenas para voos visuais diurnos, sem instrumentos adequados para navegação em condições adversas. A combinação desses fatores torna ainda mais delicada a avaliação do acidente.
Equipes do Corpo de Bombeiros de Mato Grosso do Sul e investigadores do Quarto Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Seripa IV), órgão ligado ao Cenipa, estiveram no local para recolher informações e dar início ao processo de apuração. Amostras da pista, destroços e relatos de testemunhas já estão sendo avaliados para determinar as causas com maior precisão.
A presença de animais na pista não é incomum em áreas do Pantanal, onde a fauna circula livremente por grandes extensões de terra. O risco, porém, cresce em locais que recebem pousos regulares sem infraestrutura de isolamento. A hipótese dos queixadas reforça a necessidade de medidas de contenção, já que manobras inesperadas em aeronaves antigas podem se tornar fatais em questão de segundos.
Agora, a investigação busca cruzar os elementos técnicos com os relatos de quem acompanhou o momento da tentativa de pouso. O laudo final do Cenipa deve indicar se a invasão da pista pelos animais foi determinante ou apenas um agravante em meio a outras falhas operacionais. Até lá, permanece em aberto a dúvida sobre como um episódio aparentemente corriqueiro no ambiente do Pantanal se transformou em um acidente aéreo de repercussão internacional.