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Homens agridem brasileiros na Irlanda e postam ataques no TikTok

Em ataques diferentes, um paranaense e um mineiro levaram socos na cara ao voltarem para casa na última sexta-feira (12) em Limerick. Cenas foram divulgadas na rede social, que as tirou do ar após ser questionada. No sábado (13), um carioca foi agredido.

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Frederico de Lima Costa, de 34 anos, e Mateus Gonzalez Serafim, de 21 anos, agredidos na Irlanda — Foto: Arquivo pessoal

Dois brasileiros foram agredidos, em locais diferentes, em Limerick, na Irlanda, na última sexta-feira (12), e descobriram que os ataques foram gravados e postados no TikTok.

O vídeo, que havia alcançado cerca de 20 mil visualizações até a manhã de quarta-feira (17), foi deletado pelo TikTok. Ele estava em uma conta que divulga também cenas de infrações de trânsito – inclusive em frente a um veículo da polícia.

“Quando eu vi o vídeo, me senti ridicularizado e comecei a tremer. É uma sensação horrível. Eu não tive coragem de assistir de novo”, disse Frederico de Lima Costa, de 34 anos, que levou um soco no rosto ao voltar do trabalho.

A polícia de Limerick – cidade que fica a 200 km de Dublin, a capital irlandesa – ainda trabalha para identificar os suspeitos.

“A julgar por episódios anteriores, tudo leva a crer que sejam adolescentes irlandeses movidos por sentimentos xenófobos”, diz o ministro-conselheiro da Embaixada do Brasil na Irlanda, Felipe Santarosa.

‘Pensei: agora eu vou morrer, vou ser espancado até a morte’

Frederico de Lima Costa, de 34 anos, e Mateus Gonzalez Serafim, de 21 anos, foram agredidos quando voltavam do trabalho para casa.

Os ataques ocorreram mais ou menos no mesmo horário – Mateus acredita que por volta das 23h30 e Frederico, das 23h50 de sexta – e em locais próximos – cerca de 100 metros um do outro – e foram cometidos por grupos de 3 homens, mas ainda se sabe se são os mesmos. Tanto Costa quanto Serafim levaram socos na cara.

Os dois brasileiros se conheceram na Garda, a polícia nacional da irlandesa, ao prestar queixa sobre os crimes.

Lima Costa é de Minas Gerais e foi para Limerick em junho de 2023. Ele trabalha como auxiliar em um restaurante. Na noite do ataque, voltava do trabalho pelo mesmo caminho que sempre fez.

“Desci por uma das ruas principais da cidade, passei perto de um bar super movimentado e virei à esquerda. Eu não percebi que estava sozinho na rua […], mas isso nem seria um problema, aqui supostamente é um lugar seguro”, diz.

Ao chegar no meio da rua, viu um grupo de três homens. Um dos três tentou interromper sua caminhada e o atingiu com um soco na cara. O brasileiro tentou correr na direção contrária para fugir dos agressores.

“Na hora, por conta do meu instinto e medo, comecei a gritar “socorro”, em português, ao invés de help (socorro em inglês)”, disse. Porém, por conta do impacto, o trio conseguiu alcançá-lo e o derrubou no chão. “Eu caí, bati a cabeça e pensei: agora eu vou morrer, vou ser espancado até a morte”.

Costa não se recorda como conseguiu escapar. Lembra apenas de ser acudido por outro brasileiro, que trabalhava como segurança de um bar perto do local da agressão. “Pela minha sorte, o funcionário do local era brasileiro”, declarou o mineiro.

Brasileiro diz ter ouvido ‘faça com esse estrangeiro também’

O paranaense Mateus Gonzalez Serafim, de 21 anos, está em Limerick há um ano e meio, onde trabalha numa loja de colchões.

Ele passava próximo da região onde Lima Costa foi agredido quando viu três homens e ouviu um deles gritar “faça com esse estrangeiro também”.

Um dos homens então interrompeu a caminhada de Gonzalez. Em seguida, tentou dar um soco na cara do brasileiro. “Eu só tive a reação de virar o rosto, assim, o impacto pegou no meu queixo e eu consegui correr”.

‘Achei que tivesse sido agredido por roubo (…), mas, não”

Os dois brasileiros dizem ter ficado perplexos quando descobriram que os agressores filmaram os ataques e os postaram no TikTok – algo que não é comum na Irlanda.

Embaixador vê instrumentalização de jovens contra imigrantes

A Irlanda é o sexto país europeu com mais brasileiros – são 60 mil. Cerca de 78,3% chegaram entre 2016 e 2023 e 65,1% foram ao país para aprender ou aprimorar o inglês, de acordo com a Embaixada brasileira no país.

Após os ataques a brasileiros, a embaixada pediu uma audiência com a polícia local.

“Não há um sentimento xenófobo na Irlanda, mas há grupos, que normalmente são menores de idade, que pelo simples entretenimento acreditam que podem fazer isso. Além disso, eles são normalmente instrumentalizados por grupos de extrema-direita”, diz Marcelo Biato, embaixador do Brasil na Irlanda.

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