Artigo de opinião
A cada dia, duas crianças ou adolescentes se tornam mães no Ceará: quando a infância é interrompida cedo demais

No Ceará, a infância de muitas meninas tem data marcada para acabar. Segundo dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc), só nos quatro primeiros meses de 2024, nasceram 664 bebês de mães com idades entre 10 e 14 anos no estado. Isso significa que, a cada 24 horas, duas meninas — que ainda deveriam estar brincando ou na escola — se tornam mães.
Artigo de opinião por Aryanne Costa
Esses dados chocam, mas não são novidade. Em 2014, o número de nascimentos de mães nessa faixa etária ultrapassava 1.400 ao ano. Houve uma redução importante, mas o número ainda revela uma realidade grave, marcada por vulnerabilidade social, falta de educação sexual adequada e, em muitos casos, violência.
Pela legislação brasileira, toda relação sexual com menores de 14 anos é considerada estupro de vulnerável — ou seja, crime, mesmo que a criança ou adolescente diga ter consentido. A justificativa legal é clara: abaixo dessa idade, presume-se que a pessoa não tem discernimento suficiente para consentir com relações desse tipo.
Mas a realidade é complexa. Nem todos os casos envolvem um adulto. Às vezes, são dois adolescentes ou crianças envolvidas em uma relação sexual precoce. Nesses casos, a Justiça costuma avaliar com mais cuidado, e, na maioria das vezes, não se pune criminalmente menores de 14 anos entre si, mas sim se aciona o Conselho Tutelar e redes de proteção para orientação.
Já quando há um desequilíbrio de idade — por exemplo, um menino de 16 anos e uma menina de 12 — a situação pode ser tratada como ato infracional, e o adolescente pode responder por estupro de vulnerável, ainda que não tenha havido violência.
Outro ponto polêmico levantado por especialistas é o uso de métodos contraceptivos em meninas tão novas. Embora alguns profissionais de saúde defendam a oferta de anticoncepcionais para prevenir gestações indesejadas, isso não pode ser visto como uma autorização para que crianças tenham relações sexuais. Crianças precisam de cuidado, não de anticoncepcional. Além disso ser um fator que pode agravar ainda mais o índice de estupros de adultos próximos.
Como cristã, é difícil não se indignar. A infância é sagrada. Nenhuma menina deveria carregar no colo um bebê enquanto ainda dorme com a boneca do lado. E embora o aborto seja um tema sensível dentro da fé, nos casos em que a gravidez é fruto de estupro ou envolve risco de vida para a mãe, a própria legislação brasileira autoriza o procedimento.
O problema é que, muitas vezes, essas meninas nem chegam a saber que têm esse direito. Ou, quando sabem, enfrentam um sistema que não acolhe, que julga e que demora. A burocracia, o preconceito e a desinformação fazem com que a maioria dessas gestações siga até o fim, independentemente do trauma envolvido.
Do ponto de vista social, as consequências são profundas. Muitas abandonam a escola, enfrentam rejeição familiar ou são forçadas a continuar em relações abusivas. A maternidade precoce também aumenta o risco de complicações de saúde e de perpetuação de ciclos de pobreza e violência.
Não se trata apenas de discutir números. São histórias reais, de meninas reais. Cada dado representa uma infância interrompida, um corpo exposto a riscos e uma alma que talvez leve muito tempo para entender o que aconteceu com ela.
É preciso falar sobre isso com coragem e sensibilidade. Proteger nossas crianças é mais do que garantir acesso a serviços — é ensinar, acolher, orientar e, acima de tudo, respeitar o tempo de cada uma. Tempo de brincar, de crescer, de ser apenas criança.
Enquanto duas meninas se tornam mães por dia no Ceará, é urgente que todos — famílias, escolas, igrejas e autoridades — se unam para impedir que a próxima infância seja interrompida. Antes do primeiro choro do bebê, houve um silêncio da sociedade. E é esse silêncio que precisa acabar.
Esse é um artigo de opinião e não representa, necessariamente a visão do jornal.
Artigo de opinião
Ignorância incendiária: o ataque ao templo maçônico em Fortaleza

Na madrugada de 26 de junho de 2025, um templo maçônico foi invadido e incendiado no bairro Vila União, em Fortaleza. O ato, cometido com coquetéis molotov, deixou um rastro de destruição: teto queimado, móveis carbonizados, documentos históricos reduzidos a cinzas. Mas o fogo não destruiu apenas madeira e papel. Ele revelou — mais uma vez — o quanto a ignorância pode se transformar em combustível para crimes que usam o nome de Deus como desculpa.
Embora a maçonaria sequer seja uma religião, o ataque carrega todos os sinais da intolerância religiosa. Porque, no fundo, não é só sobre o que é ou não é religião — é sobre rejeitar o que é diferente, sobre impor uma visão única do divino, sobre hostilizar qualquer espaço onde o pensamento não é domesticado. O cartaz deixado pelos agressores dizia: “Eu sou Deus, grande Rei entre todos os falsos”. A frase escancara o delírio da superioridade espiritual — e o perigo que ele representa.
O que parece falsidade: Uma instituição que, há séculos, prega valores como liberdade, igualdade e fraternidade? Ou aqueles que falam em nome do Deus cristão para justificar violência, destruição e ódio? É contraditório condenar como “falso” justamente quem não nega Deus — apenas se recusa a enquadrá-lo em uma só fórmula.
A maçonaria, embora constantemente alvo de suspeitas, não é uma religião. Não é uma seita, não realiza cultos, não prega dogmas. Trata-se de uma organização iniciática e filosófica que busca a elevação do pensamento e da moral por meio de ritos simbólicos e da fraternidade. Seus membros podem ser cristãos, judeus, muçulmanos, espíritas… O requisito é crer em um princípio criador — chamado de “Grande Arquiteto do Universo” — Em outras palavras: Deus. Assim como ter compromisso com valores como liberdade, igualdade e solidariedade.
A confusão, no entanto, persiste. Por isso, conversei com o jornalista e maçom José Luis Menezes, que explicou: “É pura ignorância. As pessoas que fazem isso não conhecem nada sobre a Ordem Maçônica.”
A resposta é simples, mas revela muito. Em tempos de desinformação em massa, instituições que prezam pela discrição acabam se tornando alvos fáceis. E o que é discreto, simbólico ou antigo demais, logo vira suspeito. O diferente precisa se explicar. O símbolo vira ameaça.
O templo atacado em Fortaleza era sede de uma loja do Grande Oriente do Ceará desde 1973. Funcionava há mais de cinquenta anos, abrigando encontros regulares, ações de filantropia, cerimônias internas e projetos sociais. Ali, documentos históricos importantes estavam guardados. Tudo isso virou cinzas. O prejuízo estimado gira em torno de R$ 300 mil — mas o maior dano não é financeiro. É simbólico.
José Luis expressou o sentimento da comunidade: “Ficamos estarrecidos. Surpresos. A maçonaria já foi perseguida em outras épocas — como no reinado de Francisco I da França — mas algo assim, hoje em dia, parecia inimaginável.”
Não é só um templo queimado. É a repetição de uma história antiga: a da perseguição ao livre pensamento. O que aconteceu em Fortaleza precisa ser lido como um alerta. Ataques como esse, ainda que isolados em ação, são sintomas de um cenário maior. Um cenário em que a liberdade de pensamento e “religiosa” começa a ser relativizada por discursos de “defesa da fé”.
O mais grave é que há quem ache justificável esse tipo de agressão — como se proteger a própria crença implicasse atacar a do outro. O nome disso não é zelo espiritual. É crime previsto no Código Penal, classificado como intolerância religiosa com motivação ideológica. Não é vandalismo. É terrorismo simbólico.
A reação da maçonaria, por outro lado, tem sido pautada pelo princípio da fraternidade. José Luis nos contou que já há mobilização nacional e internacional para apoiar a loja afetada: “A maçonaria é universal. Estamos espalhados por todos os recantos da Terra. As potências maçônicas já se articulam para prestar apoio.”
Mas não é apenas uma reconstrução física que está em curso. É também uma afirmação simbólica de que a liberdade de crença é um valor inegociável. E mais do que isso: é um exercício de fé no que o ser humano pode ser, apesar de tudo.
“Nós trabalhamos as virtudes. Uma das principais é o amor fraternal”, diz José Luis. “Perdoamos a ignorância. Queremos apenas tornar a humanidade feliz — pelo amor, pela tolerância, pelo respeito à crença de cada um. Isso tudo vai passar.”
É aqui que se percebe a verdadeira força espiritual: não no ataque, mas na resposta. A fala ecoa o que o próprio Cristo ensinou — e que os agressores, ironicamente, ignoram: amar o próximo, respeitar, dialogar, conviver. É contraditório dizer que “o Deus cristão é o único verdadeiro” enquanto se destrói um espaço onde ninguém o nega, apenas se permite entendê-lo de outras formas. O Deus usado para justificar destruição não é Cristão — é um espelho distorcido da própria arrogância humana.
E talvez o que mais incomode os intolerantes nem seja o templo em si. O que incomoda é o que ele representa: a liberdade de pensar. O direito de questionar. A possibilidade de conviver com quem não pensa igual. O espaço onde a dúvida é bem-vinda, e o dogma não é imposto. Isso, para muitos, é insuportável. Porque exige maturidade. Exige convivência. Exige escuta.
É simbólico — e profundamente trágico — que o fogo tenha começado em um lugar que ensina a pensar. Mas que esse incêndio não sirva apenas para fazer fumaça nos noticiários. Que ele acenda uma luz incômoda, mas urgente:
Até quando o fanatismo vai ter permissão para se esconder atrás do nome de Deus?
Artigo de opinião
Guerra Não É Jogo: A Tragédia Real por Trás das Torcidas Virtuais

Enquanto civis morrem de verdade, o mundo escolhe lados como se fosse disputa esportiva — e a empatia vira mais uma vítima do conflito.
Esse é um artigo de opinião e não retrata, necessariamente, o posicionamento do jornal.
De um lado, um governo israelense responsável por mais de 50 mil mortos em Gaza, que transforma a fome em política de extermínio e faz do bloqueio humanitário uma arma de guerra. Do outro, um Irã que, além de alimentar conflitos na região, mantém um regime autoritário, opressor com mulheres, dissidentes e minorias. No meio disso tudo, há um fato que atravessa todas as frentes: os civis continuam sendo as principais vítimas.Uma guerra que virou palco de cinismo político.
Donald Trump, com seu estilo imprevisível, faz declarações dúbias e belicosas. Ora ameaça atacar, ora diz que pode mudar de ideia no último segundo. Durante uma coletiva nesta quarta-feira (18 de junho), o presidente norte-americano elogiou os bombardeios israelenses, chamou-os de “excelentes” e “muito bem-sucedidos”, e afirmou que o Irã deveria se preparar para “ações ainda mais brutais” caso não aceite um acordo que nem está claro qual seria.Enquanto isso, Teerã responde com o mesmo tom de desafio. Recusa qualquer possibilidade de negociação “sob coerção ou vindas de um bélicoso em decadencia” e promete retaliar a qualquer nova ofensiva. Os líderes iranianos fazem questão de posar como resistentes, defensores da soberania nacional, enquanto seguem reprimindo mulheres, enforcando homossexuais e sufocando qualquer forma de dissidência interna.
A diplomacia está, literalmente, em ruínas. A sexta rodada de negociações prevista em Omã foi suspensa. Rússia e China, aliados estratégicos de Teerã, já mandaram recados duros a Washington, alertando para as “consequências irreparáveis” caso os EUA entrem de vez no conflito. O risco de uma guerra em larga escala, com efeitos imprevisíveis, está mais real do que nunca.
Gaza: um genocídio à vista de todos
É impossível falar da atual escalada sem mencionar o que acontece há meses na Faixa de Gaza. Israel está usando a fome como arma de guerra. Organizações humanitárias denunciam bloqueios sistemáticos à entrada de alimentos, medicamentos e ajuda emergencial. O cerco é total, e a população civil paga um preço altíssimo.Chamar isso de genocídio não é exagero retórico. É uma constatação respaldada por números e por declarações de especialistas em direito internacional. Estamos vendo, em tempo real, um povo sendo exterminado lentamente, enquanto parte da comunidade internacional finge não ver. Os que ousam criticar são logo tachados de “antissemitas”, numa inversão perversa que confunde a defesa de direitos humanos com preconceito.
Irã: um regime que também mata e oprime
Mas se é importante denunciar o que Israel faz em Gaza, é igualmente necessário olhar para o outro lado. O Irã não é uma vítima inocente nesta história. É um regime que persegue mulheres por não usarem véu, que prende, tortura e executa opositores, que criminaliza a homossexualidade a ponto de condenar pessoas à morte apenas por sua orientação sexual.
É também um país que financia milícias, que desestabiliza vizinhos e que agora, com o respaldo de potências como a Rússia, tenta se posicionar como um mártir da geopolítica.Não dá para escolher um lado “bonzinho” nesse conflito. Ambos os governos — israelense e iraniano — têm as mãos sujas de sangue. Ambos usam a população civil como escudo e como moeda de troca no tabuleiro da guerra.
A polarização cega e a morte da empatia
Nas redes sociais, o cenário é o reflexo da tragédia: polarização extrema. Há os que demonizam o Irã e fazem vista grossa ao genocídio em Gaza. Há os que romantizam a “resistência iraniana” e ignoram os mísseis caindo sobre civis israelenses. O que parece ter morrido de vez é a empatia.
Transformamos vítimas em hashtags, mortos em gráficos, e tragédias humanas em combustível para nossas guerras ideológicas de sofá. De um lado e de outro, cresce a cegueira seletiva. A dor do outro só importa quando ela confirma a nossa narrativa.
Enquanto isso, os líderes seguem alimentando seus discursos de força e resistência, como se fossem personagens de um jogo de estratégia, contando mísseis lançados como se fossem pontos de vitória.
Conclusão: é preciso romper o ciclo de hipocrisia
Não dá mais para tratar esse conflito como um jogo de torcida. Não existe herói nessa história. Há vítimas. Muitas. E enquanto a comunidade internacional seguir incapaz de fazer pressão real por cessar-fogo, investigações independentes e responsabilização de crimes de guerra, o ciclo de horror vai continuar.Quebrar esse ciclo exige mais do que indignação momentânea nas redes sociais ou discursos inflamados nas Nações Unidas. Exige coragem política, diplomacia séria e, acima de tudo, humanidade.Porque enquanto líderes discutem prazos e estratégias, o Oriente Médio segue em chamas — e os civis continuam sendo sufocados pelo medo, pela dor ou pela morte.
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