Ceará
Morre José Walter Cavalcante, ex-prefeito de Fortaleza e criador do “bairro Zé Walter”
Faleceu nesta quinta-feira (3), aos 98 anos, o ex-prefeito de Fortaleza José Walter Barbosa Cavalcante, responsável por uma das obras mais emblemáticas da história urbana da capital cearense: O conjunto habitacional prefeito José Walter, ou simplesmente o bairro Zé Walter.
A morte foi confirmada por familiares e amigos próximos. O velório ocorreu nesta sexta-feira (4), na Funerária Ethernus, no bairro Aldeota, seguido por sepultamento no Cemitério Parque da Paz. Até os últimos anos de vida, José Walter era lembrado como um engenheiro obstinado, um gestor visionário e um homem que acreditava no planejamento urbano como motor de transformação social.
À frente da Prefeitura de Fortaleza entre 1967 e 1971, durante o regime militar, José Walter não apenas administrou a cidade — ele a redesenhou. Engenheiro civil por formação, pensava Fortaleza para além de seus limites à época. Foi com esse olhar que concebeu e entregou um dos maiores projetos habitacionais do país.
O conjunto construído no bairro Mondubim não era apenas um agrupamento de casas populares: foi projetado para ser um bairro completo. Escolas, mercados, unidades de saúde e áreas de lazer integravam o traçado original. O projeto — idealizado dentro do modelo de “núcleo urbano integrado” — nasceu da necessidade de oferecer moradia digna à população de baixa renda, mas também da crença de que a habitação deve ser um direito com infraestrutura.
Na época de sua inauguração, o Conjunto José Walter foi considerado o maior conjunto habitacional da América Latina, tanto em extensão quanto em capacidade de moradia. Hoje, mais de cinco décadas depois, o bairro abriga milhares de famílias e carrega não apenas o nome, mas o espírito de seu criador: funcional, resistente e voltado para as pessoas.
Natural de Capistrano (CE), José Walter nasceu em 1927. Foi professor da Universidade Federal do Ceará e diretor da antiga Estrada de Ferro Fortaleza–Baturité. Durante sua gestão, também idealizou o Plano de Desenvolvimento Integrado da Região Metropolitana de Fortaleza (Plandirf) e asfaltou mais de 200 quilômetros de avenidas, incluindo a construção da Avenida Perimetral.
Inaugurou ainda o Ginásio Paulo Sarasate e outros equipamentos públicos que marcaram época, embora também tenha enfrentado críticas por demolições no centro histórico — como a da Coluna da Hora e do Abrigo Central — em nome da modernização.
Poucos políticos têm seus nomes gravados em bairros inteiros. José Walter teve. E não apenas pela homenagem formal, mas pelo impacto concreto de seu trabalho. Ele não apenas pensou em casas, mas em pertencimento, em cidade como abrigo, em cidadania urbanizada.
O bairro José Walter é, hoje, uma das comunidades mais emblemáticas da cidade. Cresceu, ganhou novas ruas, equipamentos públicos, linhas de transporte, comércios, e histórias — Com sua morte, parte da história urbana de Fortaleza também se despede. Mas seu legado continua habitado — todos os dias — por milhares de cearenses que chamam o Conjunto José Walter de lar.
Ceará
Sete membros do Comando Vermelho morrem em confronto com a PM em Canindé
Sete homens suspeitos de integrar a facção criminosa Comando Vermelho morreram durante um confronto com a Polícia Militar, na madrugada desta sexta-feira (31), no município de Canindé, interior do Ceará. A troca de tiros ocorreu no bairro Campinas, após equipes da PM receberem denúncias sobre a presença de criminosos armados circulando pela região.
Segundo a corporação, cerca de 15 suspeitos estavam reunidos no local, supostamente planejando ataques contra integrantes de grupos rivais. Ao perceber a aproximação das viaturas, o grupo teria reagido com disparos de arma de fogo, iniciando um intenso confronto. As equipes revidaram, resultando na morte de sete homens.
Nenhum policial foi ferido na ação. Após o cessar dos disparos, as forças de segurança realizaram uma varredura na área e encontraram diversas armas de grosso calibre, além de explosivos e munições. O confronto mobilizou equipes do Comando Tático Rural (Cotar) e da Polícia Militar de Canindé.
Entre o material apreendido estavam um fuzil, quatro pistolas, três revólveres e duas granadas, que precisaram ser detonadas de forma controlada por especialistas. Também foi apreendido um veículo utilizado pelos suspeitos, que estava estacionado nas proximidades do local onde o confronto ocorreu.
De acordo com informações da Polícia Militar, o grupo seria vinculado a atividades criminosas como tráfico de drogas, roubos e homicídios na região do Sertão Central. As autoridades acreditam que a quadrilha vinha atuando em municípios vizinhos e usava áreas rurais como esconderijo.
A ação faz parte de uma série de operações deflagradas pelo Governo do Estado para conter o avanço de facções no interior cearense. O enfrentamento direto a grupos armados tem se intensificado, principalmente em áreas de conflito entre facções rivais, como o Comando Vermelho e o Primeiro Comando da Capital (PCC).
Os corpos dos suspeitos foram recolhidos e encaminhados ao Instituto Médico Legal (IML) de Canindé. O material apreendido foi levado para a Delegacia Regional, onde será periciado e anexado ao inquérito policial que apura o caso.
A investigação segue sob responsabilidade da Polícia Civil, que busca identificar oficialmente os mortos e apurar o grau de envolvimento de cada um com o crime organizado na região. Até o momento, nenhum dos suspeitos teve a identidade divulgada.
Ceará
Aluno de academia é executado ao sair de treino em Sobral
Na noite de quarta-feira (22), um homem de 32 anos foi assassinado ao sair de uma academia no bairro Junco, em Sobral, Norte do Ceará. Conforme apurado, a vítima manobrava sua motocicleta no estacionamento interno do estabelecimento quando foi surpreendida por dois suspeitos. Segundo imagens de câmeras de vigilância, os atiradores já aguardavam no local e, ao verme a vítima, abriram fogo em sequência.
As gravações mostram a vítima iniciando a saída da academia, quando os dois homens se aproximam e disparam diversos tiros. A vítima caiu ao lado da motocicleta e os autores fugiram ainda no mesmo espaço, abandonando ao menos uma arma no local. O armamento abandonado e a cena registrada reforçam a hipótese de execução planejada.
Logo após o atentado, dois homens que treinavam na academia — identificados como policiais militares de folga — acionaram-se e iniciaram perseguição aos suspeitos. Resultado: um dos atiradores foi detido em flagrante: um adolescente de 15 anos foi apreendido no local. A polícia ainda busca o segundo autor. O fato acelera o envolvimento de equipes da Polícia Militar do Estado do Ceará e da Polícia Civil do Estado do Ceará no inquérito.
O crime acende um alerta para ambientes que normalmente se consideram seguros. Academias, clubes e espaços de lazer — embora tenham fluxo controlado — podem transformar-se em palco de violência. A ocorrência coloca em evidência como a rotina de treino pode se ver subitamente invadida por atos de extrema letalidade.
No âmbito da segurança pública no Ceará, o episódio soma-se a uma sequência de ataques armados em contextos inesperados, em que vítimas jovens são alvejadas fora das zonas habituais de risco. Mesmo com registro em vídeo, a motivação do crime e o mandante continuam sob investigação, o que dificulta pronto esclarecimento.
Do ponto de vista investigativo, a evidência da arma deixada para trás, o vídeo da ação e a rápida intervenção dos policiais de folga oferecem bons indícios de avanço. A apreensão do adolescente de 15 anos também coloca uma peça chave sob custódia, o que pode levar à identificação de cúmplices e eventual mandante.
Não há até o momento divulgação oficial do nome da vítima pela polícia. A academia, segundo apuração, não emitiu posição além do que mostram as imagens captadas pelo circuito de segurança.
Em conclusão, a execução do aluno de 32 anos ao sair da academia em Sobral segue sob investigação com um menor apreendido e evidência material preservada; resta à polícia identificar o segundo autor e definir a motivação, enquanto frequentadores e comunidade assistem ao caso em andamento.
Ceará
Sessão vazia expõe descaso com o dever público na Assembleia do Ceará
A sessão plenária da Assembleia Legislativa do Ceará, nesta quarta-feira (15), foi encerrada antes mesmo de começar. O motivo? Falta de quórum. O que poderia parecer um contratempo pontual, na verdade, escancara uma rotina de descompromisso com a função pública. E o mais curioso — ou revoltante — é que o dia é o único da semana em que a presença dos deputados é obrigatoriamente presencial. Mesmo assim, não havia sequer um terço dos parlamentares em plenário.
Em tese, a quarta-feira deveria ser o ápice da semana legislativa. O dia em que os debates ganham corpo, as votações avançam e a população pode acompanhar, de perto, aqueles que elegeu para representar seus interesses. Mas o que se viu foi um plenário esvaziado, cadeiras vazias e o presidente da Casa obrigado a encerrar a sessão por falta de número mínimo para deliberar qualquer matéria. Uma cena que se repete, infelizmente, com frequência vergonhosa.
É difícil justificar o injustificável. Como explicar a ausência maciça de deputados em um dia que, por regra, exige presença física? Muitos desses parlamentares passam o restante da semana em agendas externas, eventos políticos ou viagens — algumas, até questionáveis quanto à relevância pública. Mas nem mesmo a “obrigatoriedade” da quarta-feira tem sido suficiente para garantir o básico: presença e trabalho.
O mais preocupante é que a falta de quórum não é apenas um detalhe administrativo; é um sintoma. Ela revela a desconexão entre representantes e representados. Enquanto a população enfrenta ônibus lotados e longas jornadas de trabalho, os deputados parecem se dar ao luxo de faltar justamente ao dia reservado para exercer o cargo para o qual foram eleitos — e bem remunerados, por sinal.
Em uma Casa com 46 parlamentares, bastaria a presença de 16 para que a sessão pudesse acontecer. Não estamos falando, portanto, de uma exigência fora da realidade. Ainda assim, nem esse número mínimo foi atingido. O recado que fica é desalentador: o compromisso com o serviço público parece opcional, e o respeito ao eleitor, cada vez mais simbólico.
Há quem tente justificar as ausências com discursos burocráticos — compromissos paralelos, agendas institucionais, reuniões internas. No entanto, o contribuinte dificilmente se convence. Afinal, para a maioria da população, “compromisso de trabalho” significa estar presente, pontualmente, no local onde se trabalha. Por que com os parlamentares deveria ser diferente?
O problema é estrutural, mas também cultural. A ideia de que o mandato é uma espécie de carta branca, e não uma missão de trabalho contínuo, ainda permeia parte da política cearense. O plenário vazio é apenas o retrato visível de uma mentalidade que trata o cargo como prestígio, e não como dever.
Enquanto isso, temas importantes ficam parados. Projetos de lei, requerimentos, homenagens — tudo travado, à espera de um quórum que parece cada vez mais raro. O contribuinte, que paga altos salários e custeia gabinetes, assessores, carros oficiais e verbas de gabinete, assiste de longe à falta de empenho de quem deveria estar ali justamente para discutir os rumos do Estado.
A indignação da sociedade é legítima. Se a Alece quer reconquistar o respeito da população, precisa começar pelo óbvio: aparecer para trabalhar. Um dia por semana de presença obrigatória já é, por si só, um privilégio diante da rotina de qualquer cidadão comum. Faltar a esse único dia é, portanto, mais do que desrespeito — é provocação.
