Indígenas cuidadosos

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O padre jesuíta português Fernão Cardim (1548-1625) descreve, em obra denominada Tratados da Terra e Gente do Brasil (escritos entre 1583 e 1601), um costume respeitoso dos índios, quanto às suas mulheres. Luís da Câmara Cascudo (1898-1986), estudioso do folclore e da etnografia de nosso País, narra-o, por sua vez, em sua Antologia do Folclore Brasileiro (1944). 

Assim diz o texto: “costumam tratar bem às mulheres (…), tirando em tempo dos vinhos (…), dando por desculpa depois o vinho que beberam e logo ficam amigos como dantes. Sempre andam juntos e, quando vão fora, a mulher vai detrás e o marido diante para que, se acontecer alguma cilada, não caia a mulher nela e tenha tempo para fugir, enquanto o marido com o contrário(…). Mas, à tornada da roça ou qualquer outra parte, vem a mulher diante e o marido detrás, porque, como tenha já tudo seguro, se acontecer algum desastre, possa a mulher que vai diante fugir para casa, e o marido ficar com os contrários, ou qualquer coisa. Porém, em terra segura ou dentro na povoação, sempre a mulher vai diante e o marido detrás, porque são ciosos e querem sempre ver a mulher”.

Observa-se o cuidado dos indígenas com a proteção de suas companheiras, ainda que vez por outra, por desavenças em função de alguma bebida que tomavam, discutissem com elas, fazendo as pazes em seguida. Mais de 400 anos depois, não sei se os índios de hoje conservam tais atitudes. Porém, esse antigo costume poderia inspirar muitos maridos a cuidarem, com mais zelo, de suas mulheres. Em tempos de pandemia, quando os casos de feminicídio e agressões aumentaram por conta do isolamento social e do confinamento familiar, em todo o País, é bom que busquemos, na antropologia, informações que de alguma forma possam combater a violência em muitos lares. A História nos dá lições que, mesmo na atualidade, deveriam ser aprendidas.

Gilson Barbosa
Jornalista

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